BELO HORIZONTE - Fialho Pacheco era repórter de polícia do "Estado de Minas", aqui em Belo Horizonte, anos atrás. Escrevia bem e gostava de transformar os fatos mais duros do noticiário policial em textos literários, densos e tensos.
Uma tarde, um homem saltou para a morte do 22º andar do edifício Acaiaca, em plena Avenida Afonso Pena, no Centro da cidade, acima de nossa saudosa Faculdade de Filosofia da UFMG, que funcionava no 20º e no 21º andar. Fialho escreveu um texto longo, dolorido, espremendo ao máximo a tragédia. O homem havia perdido tudo, emprego, mulher, filhos e amigos. Desesperou-se e pulou. O jornal deu a matéria com grande destaque, manchete e fotos.
Fialho
No dia seguinte, de manhã, tocou o telefone na redação, chamando Fialho:
- Que beleza de coisas o senhor escreveu, seu Fialho. E não deve ter exagerado nada. Estou vivendo a mesma situação. Também perdi meu emprego, minha mulher me abandonou, meus filhos foram com ela, meus amigos não querem saber mais de mim, não tenho dinheiro para nada. Como ele, também vou me matar.
- Que maravilha! Também vai pular? De onde? E que hora vai ser?
O homem explicou tudo. Fialho ficou na maior empolgação:
- Então, está tudo combinado. Vou levar um fotógrafo para não perder nada. Na hora certa, estarei lá com ele. Mas, por favor, não atrase, ouviu? Não atrase!
O homem não atrasou. Pulou para a morte na hora marcada. Sem atraso nenhum. Fialho viu, fotografou tudo. E escreveu um texto sangrado, desesperado.
Aécio
O governador Aécio Neves está vivendo uma armadilha de Fialho Pacheco. Inimigos, adversários, correligionários espertos e falsos amigos estão todos querendo que ele salte para uma grande aventura, incerta e não sabida. Querem que saia do PSDB, entre para o PMDB e seja candidato a presidente da República, com apoio de Lula, do PT e da partidalha que compõe a base do governo.
Acontece que ninguém lhe garante nada. Aecio sabe que o avô Tancredo perdeu o governo de Minas para Magalhães Pinto em 1960 certo de que era o candidato de Juscelino presidente. E não era. Em 60, saindo do governo, Juscelino já era candidato a presidente em 65 e não pensava em mais nada, só nele.
Aécio também aprendeu que o destino é fugaz. Estava tudo combinado que na manhã de dia 15 de março de 85 Tancredo assumiria a Presidência da República. E na madrugada de 15 de março Tancredo já não ia mais assumir a presidência.
PSDB e PT
Para executar a "Operação PMDB", Aécio precisaria de um mínimo de certezas:
1 - Deixar assegurada a retaguarda do PSDB para alguma necessidade de recuo. Ora, o PSDB é um feudo paulista, de paulistas, para paulistas. Se o projeto dele trombar com o de algum tucano paulista, pode sentar-se à beira do caminho e chorar.
2 - O apoio de Lula é outro salto para a morte. Lula só apóia Lula. Qualquer acordo com Lula tem que ser resto de um compromisso para apoiar Lula em 2014. Lula quer lançar Dilma em 2010 porque, para Lula, Dilma seria um Lott de saias.
3 - Aécio esperar o apoio do PT é o mesmo que esperar que José Dirceu deixasse os milhões do Mensalão com Roberto Jefferson e não com Delubio Soares.
Lula só tem força no PT para assegurar o apoio do PT para ele, quando e se for candidato. Para qualquer outro apoio do PT, quem manda no PT é José Dirceu. Lula tentou que o PT apoiasse o acordo Aécio-Pimentel em Minas e Dirceu vetou. Assim como o PSDB, o PT também é um partido paulista, de paulistas, para paulistas.
Camaleões e bloquinho
4 - Os partidos que viraram camaleões para se salvarem na enxurrada do Mensalão (o PTB de Roberto Jefferson, o PP de Maluf, o PR de Waldemar da Costa Neto, o PRB do "bispo" Macedo e os partidecos) ou são apenas paulistas ou existem nos estados como escritórios de representação de uma matriz paulista. Enquanto Lula for o editor do "Diario Oficial", fazem o que Lula mandar.
5 - O chamado "bloquinho" de pequenos partidos "de esquerda" (PSB, PDT, PC do B, PV etc.), que apóiam Lula e "por isso apoiariam Aécio", é um punhado de banquinhas de camelô vendendo DVDs e CDs piratas. Não têm nenhum compromisso com o que existe lá dentro, gravado em seus programas políticos. Cada "amostra de partido" desses (os camaleões, os do bloquinho etc.) vai ficar em 2010 com os candidatos melhor cotados na Bolsa de Futuro das eleições.
PMDB
6 - E o mais grave: um pulo de Aécio para o PMDB seria um salto para a morte. Em alguns raros Estados o PMDB ainda existe como partido de fato. Mas, em termos nacionais, como partido nacional, o PMDB é uma miragem de romance de Paulo Coelho em um deserto onde nem areia restou. O PMDB não é. Já foi.
Bastou correr a notícia de que Lula o havia convidado para em 2010 ser candidato do PMDB, dele e do PT, Aécio recebeu dois recados arrogantes e atrevidos de Newton Cardoso, que controla o PMDB de Minas, e de Garotinho, presidente da maior fatia do PMDB do Rio, para se preparar para uma campanha devastadora.
Sem o PMDB de Minas e o do Rio, e já se sabe que também sem o PMDB de São Paulo (Quércia) e do Paraná (Requião), como Aécio disputaria uma convenção?
Itamar
No "Globo", o vidente Jorge Bastos Moreno diz que "há muito mistério envolvendo o ostracismo político do ex-presidente Itamar Franco. Estaria agora dedicado só ao amor e muito decepcionado com os políticos, como Lula e Aecio". Não há mistério nenhum, Moreno. Itamar, como sempre, está na contramão. Está em Juiz de Fora fazendo a campanha para prefeito de Custodio Matos, o candidato do PSDB, contra Tarcisio Delgado, veterano líder e candidato do PMDB.