Lula Marques/Folha
Para fugir à fama de fisiológico, PMDB tenta se firmar como legenda de 'programa'
As últimas pesquisas prenunciam uma disputa presidencial renhida, de resultado imprevisível. Porém...
Porém, algo já se pode prever: vença José Serra ou prevaleça Dilma Rousseff, o PMDB terá cargos no novo governo.
A movimentação do PMDB na cena política do Brasil redemocratizado expõe um rastro de fisiologia.
A má fama converteu a legenda em piada. Uma delas, embora velha, é reiterada a cada eleição.
Diz-se no Congresso que, em meio às dúvidas que permeiam todas as sucessões, há uma certeza imutável: o líder do futuro governo será Romero Jucá.
Jucá foi líder de Fernando Henrique Cardoso. Hoje, lidera a bancada que orbita ao redor de Lula.
Numa tentativa de se livrar da pecha, o PMDB decidiu pôr suas idéias no papel. Deseja firmar-se como uma legenda de programa (sem trocadilho).
Munido da peça, planeja negociar o apoio a uma candidatura presidencial. Os cargos iriam à mesa como coisa "acessória".
Nesta quinta (18), o partido realizou a primeira reunião do grupo que vai deitar o programa sobre o papel.
Sob a presidência de Michel Temer (SP), candidato a vice na chapa de Dilma Rousseff, juntou-se gente com idéias distintas das do PT.
O grupo inclui o presidente do BC, Henrique Meirelles; o ministro Nelson Jobim (Defesa), o ex-ministro Roberto Mangabeira Unger...
...O líder na Câmara, Henrique Eduardo Alves; um diretor da CEF, Wellington Moreira Franco; e o presidente da Fundação Ulysses Guimarães, deputado Eliseu Padilha.
O repórter ouviu três participantes do grupo. Juntando-se as idéias que lhes ocupam os neurônios pode-se concluir que produzirão um texto de arrepiar o petismo.
Na economia, o PMDB deseja fortalecer o mercado, não o Estado. Prega a retomada de reformas negligenciadas sob Lula. A Previdenciária, por exemplo.
O partido torce o nariz para uma proposta que caiu nas graças de Lula e Dilma: a recriação da Telebras.
Advoga o fortalecimento das agências regulatórias, hoje aparelhadas pelo petismo.
Dá de ombros, de resto, para um documento que o PT consagrou no Congresso que realizou, em Brasília, no mês passado: o Plano Nacional de Direitos Humanos.
Fechado com Dilma, Michel Temer diz que a celebração do casamento PMDB-PT terá de ser precedida por uma “fusão” de programas.
Mas nem só de partidários de Dilma é feito o grupo destacado para formular o programa do PMDB.
O gaúcho Eliseu Padilha, por exemplo, ex-ministro dos Transportes de FHC, prefere que a legenda se associe à candidatura do tucano José Serra.
Amigo de Serra, o ministro Nelson Jobim não diz em público, mas também soltaria fogos se o PMDB caísse no colo de Serra.
Padilha e Jobim integram uma minoria. O mais provável é que o grupo pró-Dilma prevaleça na convenção, marcada para junho.
Mas o programa do partido será multiuso. Se Serra vencer, vai à mesa também na negociação do apoio ao futuro governo tucano.
O PMDB se autoimpôs um calendário. A primeira versão do programa ficará pronta em 15 de abril. Correrá de mão em mão.
Recolhidas as sugestões de ajuste, um segundo texto virá à luz até o fim de abril. Será levado a voto num megaencontro marcado para 8 de maio.
Começa, então, a batalha para temperar a plataforma esquerdista que o PT entregou a Dilma com os condimentos de centro que agradam ao paladar do PMDB.
Afora o catecismo econômico comum (respeito às metas fiscal, cambial e de inflação), há dúvidas quanto às propostas que Dilma aceitará encampar. De concreto, apenas duas certezas:
1. O líder do próximo governo será o pemedebê Romero Jucá.
2. Seja qual for o eleito, o PMDB terá cargos na Esplanada. Muitos cargos.
Escrito por Josias de Souza às 05h39