quarta-feira, 31 de março de 2010

Meirelles sonda Lula, mas não obtém o posto de vice


Rodrigo Paiva/Reuters
Lula foi ao encontro do travesseiro, na noite passada, convencido de que Henrique Meirelles permanecerá no comando do BC até o final do governo.



Antes de se recolher, o presidente relatou a auxiliares o teor da conversa que tivera com Meirelles nesta terça (30).



Às voltas com a necessidade de decidir entre a solidez do cargo e a fluidez das urnas, Meirelles foi a Lula para perscrutar a alma do chefe.



Lero vai, lero vem foi à mesa o desejo de Meirelles de tornar-se candidato a vice-presidente da República, na chapa de Dilma Rousseff.



Embora entusiasta da ideia, Lula deu a entender na conversa que não teria como impor Meirelles ao PMDB, fechado com outro projeto de vice: Michel Temer.



O presidente disse que, se Meirelles optasse por disputar uma cadeira de senador por Goiás, teria o seu apoio. Porém...



Porém, Lula renovou o pedido de permanência no Banco Central. E Meirelles deixou o gabinete presidencial como entrara: de mãos abanando.



Prometeu tomar uma decisão até o final do expediente desta quarta. Lula ficou com a impressão de que Meirelles fica.



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Escrito por Josias de Souza às 04h10

segunda-feira, 29 de março de 2010

Aprovação do governo Serra fica estável em 55%, mostra pesquisa

do UOL Economia

SÃO PAULO - Prestes a deixar o governo de São Paulo para concorrer à Presidência da República nas eleições de outubro, José Serra (PSDB) encerra sua gestão com aprovação de 55% dos paulistas.

O tucano, que está com a agenda lotada de inaugurações de obras, manteve o percentual de aprovação da última pesquisa do Datafolha, realizada em dezembro do ano passado.

Os outros percentuais também não tiveram mudanças em relação ao levantamento do fim de 2009, sendo que 32% dos entrevistados avaliaram o governo Serra como regular, enquanto 11% consideraram ruim ou péssimo.

A única alteração está entre aqueles que não sabiam responder, que oscilaram de 2% para 3%.

A pesquisa foi feita entre os dias 25 e 26 de março, com 2001 eleitores. A margem de erro é de 2 pontos percentuais, para mais ou menos.

(Fernando Taquari | Valor)

domingo, 21 de março de 2010

Clóvis Rossi: Serra aponta seu problema na eleição


Folha
Com o brilho que lhe é próprio, o repórter Clóvis Rossi levou às páginas um artigo que resume o drama de José Serra.



Antes de chegar ao texto de Rossi, abra-se um parêntese.



No Brasil, duas evidências permitem a um presidente detectar a chegada da síndrome do fim do mandato:



1. De uma hora pra outra, o inquilino do Planalto começa a beber cafezinho frio.



2. De repente, o presidente se dá conta de que os aliados estão desembarcando.



Sob Lula, tudo acontece às avessas. O cafezinho que chega da copa queima-lhe a língua. Legendas como o PMDB o bajulam como nunca.



Se quiser desperdiçar a sua hora, basta à oposição passar a campanha martelando os defeitos da gestão Lula.



Pode levar ao caldeirão, por exemplo, a encrenca do descontrole nos gastos públicos. Ou a falta de reformas estruturais. Porém...



Porém, a platéia parece estar noutra. O velho e bom “choque de gestão” tucano não é mercadoria que faça sucesso na gôndola sucessória.



Para seduzir eleitores que dão a Lula índices de popularidade divinais, o tucanato terá de providenciar algo que se pareça com um sonho novo. Fecha parênteses.



Retorne-se a Clóvis Rossi. No seu texto, disponível na Folha, o repórter enxerga na última entrevista de José Serra o drama eleitoral de José Serra. Leia abaixo:





“Ao assumir sua candidatura à Presidência com aquele jeito José Serra de ser, o governador paulista disse o seguinte:



"O Lula fez dois mandatos, está terminando bem o governo. O que nós queremos para o Brasil? Que continue bem e até melhore".


Em três frases, Serra conseguiu, ao mesmo tempo, ser honesto na avaliação do governo do adversário, ser também óbvio e, por fim, definiu a imensa dificuldade que terá para vencer a disputa.


De fato, é muito difícil encontrar quem ache que Lula está terminando mal o governo.


Mas uma das principais características do mundo político é a oposição negar-se sempre a reconhecer os fatos quando os fatos são favoráveis ao governo. Serra não caiu nessa tentação.


O problema é o item seguinte, a torcida para que o Brasil "continue bem e até melhore". É o óbvio.



Salvo um ou outro tarado, não há nunca quem não queira que o país melhore. O problema para Serra será provar que ele é a pessoa indicada para fazer o Brasil melhorar.


Imagino que a massa de eleitores se fará a seguinte pergunta: se está bem com Lula, como admite até o candidato a candidato da oposição, para que mudar?


A resposta de Serra será (ou foi) esta: "Pesam as ideias, as propostas e o passado, o que cada um fez, como foi provado na vida pública".


Pode até ser que tais fatores pesem. Mas pouco. Vamos ser sinceros: ideias e propostas servem para debate entre especialistas.



A massa é guiada pela emoção e/ou pelo sentimento pessoal de cada qual. E o sentimento predominante, repito, é o tal ‘feel good factor’, o sentir-se bem que predomina na população/eleitorado.

Passado conta? Talvez. Mas pode contar contra também. Afinal, todas as pesquisas mostram que a maioria do eleitorado está hoje mais contente do que quando Serra fazia parte do governo”.



Escrito por Josias de Souza às 06h09

sexta-feira, 19 de março de 2010

PMDB usa programa para fugir à fama de fisiologista


Lula Marques/Folha

Para fugir à fama de fisiológico, PMDB tenta se firmar como legenda de 'programa'



As últimas pesquisas prenunciam uma disputa presidencial renhida, de resultado imprevisível. Porém...



Porém, algo já se pode prever: vença José Serra ou prevaleça Dilma Rousseff, o PMDB terá cargos no novo governo.



A movimentação do PMDB na cena política do Brasil redemocratizado expõe um rastro de fisiologia.



A má fama converteu a legenda em piada. Uma delas, embora velha, é reiterada a cada eleição.



Diz-se no Congresso que, em meio às dúvidas que permeiam todas as sucessões, há uma certeza imutável: o líder do futuro governo será Romero Jucá.



Jucá foi líder de Fernando Henrique Cardoso. Hoje, lidera a bancada que orbita ao redor de Lula.



Numa tentativa de se livrar da pecha, o PMDB decidiu pôr suas idéias no papel. Deseja firmar-se como uma legenda de programa (sem trocadilho).



Munido da peça, planeja negociar o apoio a uma candidatura presidencial. Os cargos iriam à mesa como coisa "acessória".



Nesta quinta (18), o partido realizou a primeira reunião do grupo que vai deitar o programa sobre o papel.



Sob a presidência de Michel Temer (SP), candidato a vice na chapa de Dilma Rousseff, juntou-se gente com idéias distintas das do PT.



O grupo inclui o presidente do BC, Henrique Meirelles; o ministro Nelson Jobim (Defesa), o ex-ministro Roberto Mangabeira Unger...



...O líder na Câmara, Henrique Eduardo Alves; um diretor da CEF, Wellington Moreira Franco; e o presidente da Fundação Ulysses Guimarães, deputado Eliseu Padilha.



O repórter ouviu três participantes do grupo. Juntando-se as idéias que lhes ocupam os neurônios pode-se concluir que produzirão um texto de arrepiar o petismo.



Na economia, o PMDB deseja fortalecer o mercado, não o Estado. Prega a retomada de reformas negligenciadas sob Lula. A Previdenciária, por exemplo.



O partido torce o nariz para uma proposta que caiu nas graças de Lula e Dilma: a recriação da Telebras.



Advoga o fortalecimento das agências regulatórias, hoje aparelhadas pelo petismo.



Dá de ombros, de resto, para um documento que o PT consagrou no Congresso que realizou, em Brasília, no mês passado: o Plano Nacional de Direitos Humanos.



Fechado com Dilma, Michel Temer diz que a celebração do casamento PMDB-PT terá de ser precedida por uma “fusão” de programas.



Mas nem só de partidários de Dilma é feito o grupo destacado para formular o programa do PMDB.



O gaúcho Eliseu Padilha, por exemplo, ex-ministro dos Transportes de FHC, prefere que a legenda se associe à candidatura do tucano José Serra.



Amigo de Serra, o ministro Nelson Jobim não diz em público, mas também soltaria fogos se o PMDB caísse no colo de Serra.



Padilha e Jobim integram uma minoria. O mais provável é que o grupo pró-Dilma prevaleça na convenção, marcada para junho.



Mas o programa do partido será multiuso. Se Serra vencer, vai à mesa também na negociação do apoio ao futuro governo tucano.



O PMDB se autoimpôs um calendário. A primeira versão do programa ficará pronta em 15 de abril. Correrá de mão em mão.



Recolhidas as sugestões de ajuste, um segundo texto virá à luz até o fim de abril. Será levado a voto num megaencontro marcado para 8 de maio.



Começa, então, a batalha para temperar a plataforma esquerdista que o PT entregou a Dilma com os condimentos de centro que agradam ao paladar do PMDB.



Afora o catecismo econômico comum (respeito às metas fiscal, cambial e de inflação), há dúvidas quanto às propostas que Dilma aceitará encampar. De concreto, apenas duas certezas:



1. O líder do próximo governo será o pemedebê Romero Jucá.



2. Seja qual for o eleito, o PMDB terá cargos na Esplanada. Muitos cargos.

Escrito por Josias de Souza às 05h39

quinta-feira, 18 de março de 2010

Dirceu: ‘A mídia não elege mais presidente no Brasil’ (Josias)

José Dirceu fez aniversário na última terça (16). Festejou em Brasília, cercado de amigos e poderosos, a chegada dos 64.



A certa altura, dicursou. Os assuntos de praxe: eleição e mídia. Disse coisas assim: “Há uma manobra diversionista contra nós, mas não vamos nos desviar do nosso objetivo...”



“...Em 2002 e 2006 nós elegemos Lula e agora vamos eleger a continuidade do nosso projeto, que é a Dilma. A mídia não elege mais presidente no Brasil”.



Dilma Rousseff não deu as caras. Tinha outro compromisso. Um jantar com o pedaço do PTB que lhe devota simpatia, na casa do líder Gim Argelo (DF).



Durante o repasto, coube ao senador Fernando Collor (PTB-AL) a intervenção mais efusiva. Disse que presidente como Lula o país não via desde Getúlio Vargas.



Ex-perseguido político do petismo, Collor como que ecoou Dirceu, um grão-petê que, no passado, plantava despachos de macumba contra ele nas encruzilhadas da mídia.



“O Brasil pode atravessar uma quadra de prosperidade de dez anos", vaticinou Collor. "Basta elegermos a Dilma. É fundamental”.



Como se vê, na Brasília dos dias que correm, o político coerente é um cadáver mal informado. Como não sabe que morreu, nunca é o que parece. Sobretudo quando parece o que é.

Escrito por Josias de Souza às 07h20

quarta-feira, 10 de março de 2010

Ministro da Cultura suspende filiação ao PV por rejeitar "aproximação com PSDB e DEM"

Maurício Savarese
Do UOL Notícias
Em São Paulo

Mastrangelo Reino/Folha Imagem Ministro da Cultura se afasta do PV por divergências Juca Ferreira discursa em evento de assinatura do projeto de lei do Vale-Cultura, em São Paulo

Único ministro do PV no governo federal, o titular da pasta da Cultura, Juca Ferreira, pediu nesta quarta-feira (10) a suspensão de sua filiação por 12 meses por conta da aproximação de seu partido com os oposicionistas PSDB e DEM em seu Estado natal, a Bahia. Além disso, o substituto de Gilberto Gil no cargo não aceita a possibilidade de o deputado Luiz Bassuma disputar o governo baiano neste ano.

De acordo com um interlocutor do ministro, Ferreira avalia que o Partido Verde, que integra a base de apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Congresso desde 2003, está estabelecendo vínculos com aliados do presidenciável e governador de São Paulo, José Serra (PSDB). O PV deve ter a senadora Marina Silva (AC) como candidata à Presidência da República em outubro.

O ministro da Cultura rejeita a possibilidade de Bassuma ser candidato ao governo estadual por sua posição contra o aborto. No ano passado, o deputado, ligado à Igreja Católica, foi pressionado a deixar o PT, que tem posição histórica em favor da decisão das mulheres sobre o assunto. O deputado migrou para o PV depois de Marina Silva fazer o mesmo movimento.
Leia mais notícias

* Governistas barram presença de promotor do caso Bancoop na CCJ do Senado
* Arruda se recusa a fazer jejum e adia exames de sangue e urina
* DEM, PPS e PSDB entram com ação conjunta contra Dilma e Dirceu
* Relator quer acelerar tramitação do pedido do STJ para processar Arruda

Críticos do PV afirmam que o presidente nacional da legenda, o vereador paulistano José Luiz Penna, o vice, Alfredo Sirkis, e o deputado Fernando Gabeira (RJ), estabeleceram relações muito próximas com o PSDB e que poderiam rifar a candidatura de Marina ao Palácio do Planalto. Os três negam a acusação e se dizem engajados na tentativa da ex-ministra do Meio Ambiente de se candidatar.

O sociólogo Juca Ferreira, 61, é ministro da Cultura desde julho de 2008, após a saída de Gil. Com o afastamento do PV, ele fica livre para subir no provável palanque da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, única pré-candidata do PT à sucessão presidencial. O mesmo deve valer para a Bahia, onde o governador petista Jaques Wagner tentará a reeleição.


* do UOL Notícias

segunda-feira, 8 de março de 2010

Brasil está preparado para eleger uma mulher presidente, afirma Dilma

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) aproveitaram o Dia Internacional da Mulher, comemorado nesta segunda-feira, para defenderem a participação feminina na política.

Pré-candidata à Presidência da República pelo PT, Dilma afirmou que o país está preparado para ser governado por uma mulher. "Não só o Brasil está preparado para eleger uma mulher como também a mulher está preparada para governar", afirmou a ministra durante cerimônia na estação da Leopoldina, no Centro do Rio, em homenagem ao Dia Internacional da Mulher.

Durante seu discurso, o presidente também enalteceu a figura materna da mulher para defender a participação feminina na política.

"Se uma mulher é capaz de parir um político, por que ela não é capaz de parir uma administração mais competente do que o político que ela colocou no mundo?", questionou Lula. "Não foi à tão que indiquei ao meu partido e aos meus aliados uma mulher brasileira para me substituir", disse.

Mais cedo, durante inauguração de um complexo esportivo na favela da Rocinha, no Rio, Lula criticou a imprensa brasileira. A bronca do presidente foi sobre a reportagem publicada hoje no jornal "O Globo", que questiona a participação de Dilma na inauguração de um hospital que não tinha investimentos do governo federal.

"A imprensa brasileira por hábito ou desvio de comportamento não gosta de falar de obra inaugurada. O que é bom, não presta, só serve desgraça", afirmou Lula, ao ressaltar que as parcerias entre o governo federal e Estado do Rio de Janeiro permitiram a construção do Hospital da Mulher Heloneida Studart inaugurado ontem em São João de Meriti, na Baixada Fluminense.

Em nota, o Ministério da Saúde e a Casa Civil rebateram as acusações e disse que mantém parceria com o governo do Rio para a manutenção do hospital. Na nota, o governo afirma que vai arcar com R$ 50 milhões para o custeio do hospital em parceria com o governo do Rio, mas admite que o Estado bancou a construção do prédio por R$ 40 milhões.

domingo, 7 de março de 2010

A hora é agora, por Fernando Henrique Cardoso*


Hora de avançar a partir do que conseguimos nestes 25 anos de democracia e de buscar um futuro melhor para todos. As bases para o Brasil preservar seus interesses sem temer o mercado internacional estão dadas. Convém mantê-las. Controle da inflação, pelo sistema de metas, câmbio flutuante, lei de responsabilidade fiscal, autonomia das agências regulatórias, são pilares que podem se ajustar às conjunturas, mas não devem ser renegados, e não podem estar sujeitos a intervenções político-partidárias e interesses de facção. Há, contudo, desafios: o novo governo terá de cuidar de controlar os gastos correntes e de conter a deterioração da balança de pagamentos (sem fechar a economia ou inventar mágicas para aumentar artificialmente a competitividade de nossos produtos).

Perdemos tempo com uma discussão bizantina sobre o tamanho do Estado ou sobre a superioridade das empresas estatais em relação às empresas privadas ou vice-versa. Ninguém propõe um “Estado mínimo”, nem muito menos o PSDB. Outra coisa é inchar o Estado, com nomeações a granel, e utilizar as empresas públicas para servir a interesses privados ou partidários. A verdadeira ameaça ao desenvolvimento sadio não é privatizar mais, tampouco o PSDB defende isto. Empresas estatais se justificam em áreas para as quais haja desinteresse do capital privado ou necessidade de contrapeso público. Não devem acobertar ganhos políticos escusos nem aumentar o controle partidário sobre a economia. Precisam dispor de sistemas de governança claros e transparentes. A ameaça é continuar a escolher, como o governo atual, quais empresas serão apoiadas com dinheiro do contribuinte (sem que este perceba), criando monopólios, ou quase monopólios, que concentrarão mais ainda a renda nacional.

Os avanços sociais obtidos pelos últimos governos se deram nos marcos da Constituição de 1988. Incluem-se aí a “universalização” do acesso aos serviços de saúde (via SUS) e à escola fundamental (via Fundef), a cobertura assistencial a idosos e deficientes (via Loas), bem como o maior acesso a terra (via Programa de Reforma Agrária). Além disso, a política continuada de aumento real do salário mínimo a partir de 1994, a extensão de programas sociais a camadas excluídas e a difusão de mecanismos de transferência direta de renda (as bolsas), melhoraram as condições de vida e ampliaram o mercado interno. Tudo isso precisa ser mantido. Caberá ao novo governo reduzir os desperdícios e oferecer serviços de melhor qualidade, melhor avaliados e com menor clientelismo.

Não se pode elidir uma questão difícil: a expansão dos impostos sustentou os programas sociais. Atingiu-se um limite que, se ultrapassado, prejudicará o crescimento econômico. É ilusão pensar que um país possa crescer indefinidamente puxado pelo gasto público financiado por uma carga tributária cada vez maior e pelo consumo privado. Falta investimento, sobretudo em infraestrutura, e falta poupança doméstica, principalmente pública, para financiá-lo. Maior poupança pública não virá de maior tributação. Ao contrário, é preciso começar a reduzir a carga tributária, sobretudo os impostos que recaem sobre a folha de pagamentos, para gerar mais empregos. Para investir mais, tributar menos e dispor de melhor oferta de serviços sociais, não há alternativa senão conter o mau crescimento do gasto. Isso permitirá a redução das taxas de juros e o aumento da poupança pública, como condição para aumentar a taxa de investimento na economia. Sem isso, cedo ou tarde, se recolocarão os impasses no balanço de pagamentos, com a deterioração já perceptível das contas em transações correntes, e na dívida pública, que em termos brutos já ultrapassa 70% do PIB.

Nem só de economia e políticas sociais vive uma nação. Os escândalos de corrupção continuam desde o mensalão do PT. Há responsabilidades pessoais e políticas a serem cobradas e condenadas. Mas há também desvios institucionais: o sistema eleitoral e partidário está visivelmente desmoralizado. Uma reforma nesta área se impõe. Ela se fará mais facilmente no início do próximo governo e se houver um mínimo de convergência entre as grandes correntes políticas. O PSDB deve liderar esse debate na busca de consenso.

O mesmo se diga da segurança pública. Há avanços no plano federal e em vários Estados. A expansão da criminalidade advém do crime organizado e do uso das drogas. O dia a dia das pessoas é de medo. As famílias e as pessoas precisam de nossa coragem para propor modos mais eficientes de enfrentar o tema. A despeito da melhoria do sistema jurisdicional e prisional, estamos longe de oferecer segurança jurídica às empresas e, o que mais conta, às pessoas.

Olhando o futuro, falta estratégia e sobram dúvidas: o que faremos no campo da energia? Onde foi parar o programa do biodiesel? Que faremos com os êxitos que nossos agricultores e técnicos conseguiram com o etanol? Que políticas adotar para torná-lo comercializável globalmente? A discussão sobre as jazidas de petróleo se restringirá à partilha de lucros futuros ou cuidaremos do essencial: a base institucional para lidar com o pré-sal, a busca de tecnologias adequadas e de uma política equilibrada de exploração? E a “revolução educacional”, que, com as honrosas exceções em um ou outro Estado, é apenas objeto de reverência, mas não de ação concreta? Finalmente: que papel desempenharemos no mundo, o de uma subpotência bélica ou a de um país portador de uma cultura de convivência entre as diferentes raças e culturas, com tolerância e paz, embora cioso de sua segurança?

Tudo isso e muito mais está à espera de um debate político maduro, que à falta de ser conduzido por quem devia fazê-lo, por ter responsabilidades de mando nacional, deve ser feito pela sociedade e pelos partidos.

*Ex-presidente da República

sexta-feira, 5 de março de 2010

Governador Sérgio Cabral passa mal e é levado a hospital

RICARDO VALOTA - Agencia Estado

SÃO PAULO - Ao sentir tontura e dor de cabeça, o governador do Rio, Sérgio Cabral, foi levado às pressas na noite de quinta-feira, 4, para o Hospital Quinta D''Or, em São Cristóvão, para realização de exames. Cabral passou mal após ter retornado de Belo Horizonte (MG), onde participou das solenidades de comemoração dos 100 anos do nascimento do ex-presidente Tancredo Neves. O governador foi submetido a um eletroencefalograma e foi liberado após o exame.



O secretário estadual de Saúde, Sérgio Cortes, acompanhou o governador até o hospital. O resultado do exame e o diagnóstico médico não foram divulgados. Cabral se submeteu aos exames a pedido de seu neurologista, Sergio Novis.

quinta-feira, 4 de março de 2010

Serra deixa em Brasília um rastro de ‘irritação aliada’


Lula Marques/Folha



José Serra, o presidenciável da oposição, deixou em Brasília um rastro pegajoso de decepção e irritação.



Armara-se no Senado, ao redor da sessão em que foi celebrado o centenário do nascimento de Tancredo Neves, um palco de candidato.



Serra tinha à sua disposição holofotes, repórteres e aliados sequiosos por ouvir dele, ainda que a portas fechadas, uma afirmação de candidato.



Reagiu às luzes com uma timidez que contrastou com a desenvoltura de Aécio Neves, o neto do homenageado.



Chegaram juntos ao plenário do Senado. Aécio, solícito, distribuiu abraços, sorrisos e apertos de mão. Serra economizou cumprimentos. Risos? Só os amarelos.



Aos repórteres, o quase-candidato serviu a desconversa de sempre. Afinal, é candidato?



"Eu vim hoje aqui participar de uma homenagem ao nosso grande Tancredo Neves. Questão de eleição, a gente trata em um outro momento".



Aos aliados, Serra deu as costas. O presidente do PSDB, Sérgio Guerra, convidara congressistas do PSDB, do DEM e do PPS para uma reunião.



Encontrariam o governador paulista no gabinete da liderança tucana, antes da sessão comemorativa. Serra se atrasou.



Adiou-se a reunião para depois da sessão. Serra foi embora antes. Tucanos, ‘demos’ e pepêésses tiveram de se contentar com o sempre disponível Aécio.



Entre quatro paredes, crivaram-no de perguntas sobre a hipótese de virar vice. Aécio negou. Renegou. Mais um pouco e teria batido na madeira três vezes.



Quem ouviu saiu convencido de que o governador mineiro deve ser tomado a sério. Avaliou-se que não faz jogo de cena. Vai disputar o Senado. E ponto.



Aos repórteres, Aécio repetiria a frase que disse ter ouvido do avô: “Não adianta empurrar, empurrado eu não vou”.



Na noite da véspera, em encontro reservado, num hotel de Brasília, Aécio ouvira de Serra, pela primeira vez, o convite para a vice. Dissera “não”. Ajuda mais, alegara, concentrando-se em Minas.



Entre decepcionados e irritados, os oposicionistas arregimentados por Sérgio Guerra lamentaram que Serra não os tivesse brindado com sua presença na reunião.



Exceto por manifestação feita à cúpula do PSDB, pela resposta a uma pergunta humorística –“Vai pipocar?”— e pelo discurso em que injetou críticas ao petismo, Serra não foi, ainda, o candidato que seus aliados esperam.



Um candidato explícito, peremptório, indubitável. Nesta quinta (4), terá nova chance, dessa vez em vitrine mineira.



A convite de Aécio, Serra vai à inauguração da Cidade Administrativa, nova sede do governo de Minas.


Escrito por Josias de Souza às 03h21