quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Holofotes no Nordeste são decisivos para candidatura de Dilma, dizem especialistas

Maurício Savarese
Do UOL Notícias
Em São Paulo

Em megacobertura, TV estatal destaca caravana de Lula


A viagem com a comitiva do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à região das obras de transposição do rio São Francisco é decisiva para a eventual candidatura da ministra-chefe da Casa Civil à Presidência, de acordo com especialistas ouvidos pelo UOL Notícias. Para eles, a petista precisa aproveitar a oportunidade em uma região onde seu principal eleitor conquistou grande parte dos votos para vencer as duas últimas disputas pelo Palácio do Planalto.

Tecnicamente empatada nas pesquisas de intenção de voto com o deputado Ciro Gomes (PSB-CE), ministro da Integração Nacional durante o lançamento das obras, Dilma faz parte do grupo de ministros que passará por cidades da Bahia e de Pernambuco para vistoriar os trabalhos do ambicioso projeto - depois da parada inicial na região mais pobre de Minas Gerais, no Sudeste.

Dilma monta núcleo político para coordenar campanha

Fazem parte do time Antonio Palocci, Gilberto Carvalho, Franklin Martins, Fernando Pimentel, Ricardo Berzoini e o marqueteiro João Santana.

Dezenas de jornalistas, inclusive de veículos internacionais, foram enviados ao local para acompanhar a comitiva, que dormirá por ali mesmo em um acampamento do Exército no sertão de Pernambuco.

"Lula está expondo sua candidata no maior reduto lulista do Brasil, a estratégia não poderia ser diferente", afirma o cientista político David Fleischer, professor da Universidade de Brasília (UnB). "Ele precisa mostrar para os outros que ela é a candidata e que Lula não terá de precisar do candidato, que é Ciro Gomes. Para o plano B não sair da gaveta, Dilma tem de subir nas próximas pesquisas e o Nordeste faz parte disso."

No segundo turno das eleições presidenciais de 2006, Lula obteve 77,10% dos votos no Nordeste, contra 22,9% do tucano Geraldo Alckmin. Entre os Estados nordestinos que integram a viagem, o presidente obteve 78% dos votos dos baianos em 2006 e 65% em 2002, quando se elegeu superando José Serra, também do PSDB. Em Pernambuco, onde fica sua cidade natal, levou 57% dos votos em 2002 e na votação seguinte ampliou a vantagem para 78,5%.

"O governo Lula teve uma expressiva votação no Nordeste e inverteu o padrão histórico, no qual os partidos de esquerda eram mais fortes no Centro-Sul e os conservadores tinham mais força no Norte e no Nordeste", afirma Claudio Couto, professor da PUC-SP. "O governo quer manter essa base eleitoral para as próximas eleições e tem que se fazer presente em uma região onde já se mostrou forte. Para a Dilma isso é fundamental."

  • Arte UOL

    Lula e comitiva percorrem três Estados até sexta-feira (16) visitando obras do rio São Francisco

Nordeste ainda é pouco
Embora o apoio nordestino seja importante para as eleições, ele ainda é pouco para uma candidatura capaz de vencer, dizem os analistas. "O Nordeste é o grande reduto do Lula hoje, mas ele terá de fazer isso no resto do país também", diz o analista político Carlos Melo.

"A Dilma não será impulsionada pelo PT, que tem seu eleitorado cativo mas que não amplia além disso. O Lula vai ter de fazer isso, começando pelo Nordeste, para ajudar Dilma a subir nas pesquisas. E aí criar uma dinâmica favorável, um clima mais eufórico para que a candidatura da preferida dele não corra riscos."

Para ele, a possível candidata petista tem de ampliar sua base em dois Estados governados pela oposição: Minas Gerais e São Paulo. Na reta final das eleições de 2006, Lula concentrou esforços nos dois principais colégios eleitorais do país e reduziu a desvantagem entre os paulistas e ampliou entre os mineiros.

Em 2006, Alckmin levava ampla vantagem sobre Lula entre os paulistas semanas antes da votação e essa diferença acabou em cinco pontos percentuais. Entre os mineiros, o presidente teve campanha titubeante que depois deslanchou, dando a ele 65% dos votos contra o tucano no segundo turno.

Fleischer, da UnB, afirma que Lula repetirá a experiência pelo resto do Brasil porque em 2006 não teve grande êxito na transferência de votos para seus candidatos a governador. "As pesquisas mostram que 30% das pessoas votariam no candidato do presidente. Se ele conseguir transferir metade da popularidade de 70% que tem, Dilma será uma adversária dura. Mas na última votação não deu muito certo e Lula já percebeu que tem de começar mais cedo para eleger sua candidata", afirmou.


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