No Congresso, Lula faz novo mea-culpa (Tribuna da Imprensa)
BRASÍLIA - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez ontem mais um mea-culpa a respeito do comportamento do PT na Assembléia Nacional Constituinte, durante cerimônia realizada no Congresso pelos 20 anos da Constituição de 1988. Lula lembrou que o PT, do qual era líder, votou contra a aprovação da Constituição (os petistas diziam que ela não resolveria nada) e, só a custo, a assinou.
"Uma parte da bancada, radicalizada, achava que não deveria assinar, e eu disse: `não tem sentido, a gente participou dois anos aqui, ganhamos salário, ganhamos assistentes para nos ajudar, como é que pode um filho nascer e a gente não registrar? Vamos assinar."
Lula disse que nos seis anos em que está na Presidência da República compreendeu, como ninguém, que a Constituição, com todos os defeitos que tem, "é um garante da democracia, esta é a verdade nua e crua". Lula citou sua própria carreira política para enaltecer a Constituição. "Imaginem vocês se, 20 anos atrás, era previsível um metalúrgico chegar à Presidência da República, e quando se pensava em chegar, o contra-argumento era de que 'não vão deixar tomar posse'."
E prosseguiu, no discurso que fez durante a cerimônia em comemoração aos 20 anos da Constituição: "Vejam que coisa extraordinária: eu ganhei as eleições depois de disputar muitas, tomei posse, fui reeleito, tomei posse e, se Deus quiser, muitos outros ganharão, tomarão posse e este País nunca mais sofrerá a experiência de golpes ou que alguém que não seja o próprio Congresso Nacional, respeitando a Constituição, ou a sociedade, possa tirar um mandatário eleito democraticamente pelo povo brasileiro."
Lula foi eleito deputado para a Assembléia Constituinte em 1986. Contou aos presentes - entre eles, os presidentes do Senado, Garibaldi Alves (PMDB-RN) e da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, e o vice-presidente José Alencar - que só queria ser constituinte. "Tanto é que, em 1990, peguei minha mala e fui embora para São Bernardo do Campo".
O presidente lembrou que a Constituinte foi um dos períodos políticos mais ricos do País. E que faria seu discurso de improviso, embora tivesse um já escrito, com todo cuidado para não falar alguma coisa que crie problemas na relação entre os Poderes Executivo e Legislativo. Em seguida, afirmou que da tribuna da Constituinte falaram índios, crianças de rua, prostitutas, homossexuais, desempregados, os representantes do campo.
Por causa da Constituição, segundo Lula, hoje o Brasil vive o mais longo período de sua democracia. "Todo mundo sabe o quanto é importante esta Constituição que permitiu que o nosso País e este Congresso cassassem um presidente da República e a estabilidade política se mantivesse neste País sem causar nenhum transtorno, por conta do fortalecimento das instituições."
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