domingo, 14 de fevereiro de 2010

Políticos dão ao Carnaval ares de ‘Quarta de Cinzas’

Fotos: Moacyr Lopes Jr./Folha

No Carnaval, a política não tem função, exceto como matéria-prima para críticas.

Mas Serra, Dilma e Ciro resolveram se converter em foliões fora de época.

Os presidenciáveis foram distribuir sorrisos e acenos na passagem do Galo da Madrugada.

Um megabloco que arrasta pelas ruas de Recife algo como 1,5 milhão de pessoas.

É gente interessada em pular, namorar, beber cerveja e esquecer da vida. Ninguém vai ao asfalto para ver cara de candidato.

Mas o ano é de eleição, a rua é livre e os candidatos, embora ruins da cabeça e doentes do pé, fingem que gostam de samba. Ou de frevo.

Serra levou à capital pernambucana sua fantasia preferida. A fantasia de não-candidato: "Eu não vim fazer política. Vim participar da folia".

O presidenciável tucano escalou o camarote oficial do Galo da Madrugada, uma instituição do carnaval pernambucano.

Estava acompanhado das principais lideranças da oposição no Estado. Entre elas o grão-tucano Sérgio Guerra e o pemedebê dissidente Jarbas Vasconcelos.

No caminho até o camarote, grupos de foliões gaiatos gritaram o nome de Dilma. “Não ouvi nada”, diria Serra mais tarde.

Na chegada, um incidente: atrás de Serra, Raul Jungmann (PPS) sentiu uma fisgada no bolso. Era a mão de um punguista no celular do deputado.

No ano passado, ao prestigiar a parada gay de Recife, Jungmann já tivera um telefone furtado. Dessa vez, mais safo, logrou imobilizar o ladrão.

A despeito do incidente, Serra animou-se a descer do camarote. Percorreu algo como 150 metros de foliões.

Escoltado por seguranças e seguido por Jarbas, Serra roçou cotovelos com a bugrada por cerca de 20 minutos.

Vencidas as duas dezenas de minutos de empurra-empurra, Serra tomou chá de sumiço. A turma que o acompanhava sentiu falta dele.

Só mais tarde os partidários de Serra desdobriram que o candidato preferira exilar-se no camarote da TV Globo. Mais confortável, com ar condicionado.

Ao tomar conhecimento da aventura carnavalesca de Serra, a quem costuma chamar de “o coiso”, Ciro Gomes sambou sobre a reputação do rival:

Disse que "é mais fácil boi voar” do que Serra estabelcer com o povo nordestino uma relação de empatia. Ironizou:

“É importante que o governador venha conhecer o mundo real pelo menos uma vez na vida. Antes tarde do que nunca".

Ao lado de Dilma, Ciro assistia à passagem do Galo empoleirado no camarote do governo do Estado, a 3 km de distância de local em que se encontrava “o coiso”.

A candidata de Lula e o "franco atirador" do PSB mantêm, como se sabe, um relacionamento sui generis.

Ciro tenta não ficar tão próximo de Dilma que amanhã não possa estar distante, nem tão distante que amanhã não possa se aproximar.

O Carnaval, contudo, promoveu entre ambos uma aproximação momentânea e compulsória.

Presidente do PSB, o governador Eduardo Campos, que faz as vezes de algodão entre cristais, celebrou:

"Essa imagem [dos dois juntos] significa que o projeto iniciado pelo presidente Lula vai continuar".

E Ciro: "Dilma não é adversária. Não temos antagonismo, somos amigos". E Dilma: “O deputado é meu amigo”.

Diferentemente de Serra, o par de “amigos” preferiu não encarar o lufalufa do asfalto. Mas, no camarote, os dois pularam, sacudindo suas candidaturas.

Terminada a folia carnavalesco-eleitoreal, Ciro permanceu em Recife. Neste domingo, voa para o Ceará. Serra e Dilma esticaram até Salvador.

Ele foi ao camarote da cantora Daniela Mercury. Ela, às acomodações do governo chefiado pelo petista Jaques Wagner.

O enredo se repete. Sempre que se avizinham as eleições, os políticos cuidar de converter o Carnaval numa sucessão de Quartas-feiras de Cinzas.


Escrito por Josias de Souza às 02h46

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