domingo, 16 de agosto de 2009

Cerco a Dilma - Eliane Cantanhêde

O resultado mais relevante da pesquisa Datafolha publicada pela Folha hoje (domingo, 16/08/09) é que a eleição está cristalizada, com os dois candidatos favoritos, Serra e Dilma, chegando ao respectivo patamar de cada um, sem previsão de solavancos nem para cima, nem para baixo. Ele tinha 38% em maio e está com 37%. Ela estava com 16% e continua com os mesmos 16%.

A conclusão óbvia é que Serra se consolidou na dianteira, apesar da oscilação negativa, e Dilma aparentemente perdeu fôlego e estacionou antes do tempo, apesar de todos esses meses viajando pelo país com Lula, o grande e indispensável trunfo de sua candidatura. Ela saiu de 3%, pulou para 11% em um ano e parou em 16%. Como se este fosse o seu teto.

Junte-se a isso o fator Marina Silva, que está para sair do PT para o PV e entrar na disputa com o empurrão do desenvolvimento sustentável. Marina é o chamado "fato novo" e seus 3%, hoje, não dizem muito, a não ser que ela, pouco conhecida e sem rejeição, tem muito para crescer.

Marina, portanto, chega num momento chave para Dilma. Ao despontar, ela bloqueia o potencial de Dilma, que precisa mais do que nunca se "pendurar" na popularidade de Lula para avançar. E, principalmente, para demonstrar força e incutir confiança dentro do PT.

O jogo ainda está sendo jogado, mas a outra possibilidade que deveria deixar o Planalto de cabelo em pé é a de aliança entre a campanha limpa, em vários sentidos, do PV de Marina Silva e o estridente PSOL de Heloísa Helena. Os dois e as duas, somados, significam uma crítica ao quadrado do modelo PT-Lula de poder e à polaridade PT-PSDB.

O outro resultado da entrada em cena de Marina é a guinada de Ciro Gomes, que tende a abandonar a fantasia de concorrer ao governo de São Paulo (só porque Lula quer quem espanque Serra no Estado político de ambos), para voltar ao trilho da eleição presidencial. Na disputa, Ciro vai reforçar as críticas a Serra e aos tucanos, mas tirando votos dos dois lados.

Em resumo, o Datafolha confirma que a posição de Serra continua confortável, a de Dilma acende o sinal amarelo no Planalto, a de Marina pode chacoalhar a eleição e a de Ciro reintroduz algum equilíbrio. E que Aécio Neves não decola.

No mais, ainda é cedo para apostar na s chances de vitória de Marina, por exemplo, que vai crescer, fixar uma boa mensagem ética e mexer com os nervos dos adversários, mas dificilmente terá estrutura, tempo e mesmo programa para virar o jogo e ganhar.

A melhor aposta ainda é uma disputa polarizada entre Serra e Dilma, mas com muito mais sofisticação, maior número de elementos e uma boa pitada de pimenta. E uma Marina só é capaz de tudo isso. Era era o que faltava na eleição.

Eliane Cantanhêde é colunista da Folha, desde 1997, e comenta governos, política interna e externa, defesa, área social e comportamento. Foi colunista do Jornal do Brasil e do Estado de S. Paulo, além de diretora de redação das sucursais de O Globo, Gazeta Mercantil e da própria Folha em Brasília.

E-mail: elianec@uol.com.br

0 Comentários:

Postar um comentário

Assinar Postar comentários [Atom]

<< Página inicial