Atritos com PT favorecem Serra no PMDB, diz líder
‘Se não negociar, o PT pode jogar tudo por água abaixo’
Apoio a Dilma depende hoje de ‘condicionantes’ estaduais
‘Se não resolver Minas Gerais nem adianta conversar mais’
Hoje,uma convenção do PMDB teria 'resultado imprevisível’
Sem ação de Lula ‘pode ser comprometido projeto nacional’
Fábio Pozzebom/ABr
Líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN) é ardoroso defensor de uma aliança de seu partido com o candidato que Lula indicar para 2010.
Acha que o legado de Lula precisa ter continuidade. Com Dilma Rousseff ou com outro candidato. Mas receia que o PT envenene o projeto.
Vai abaixo a entrevista que o deputado concedeu ao blog:
- A direção do PMDB já dispõe de um diagnóstico estadual?
Reunimos nesta semana representantes de 25 Estados.
- O partido está dividido entre Dilma e Serra?
Verificamos que 17 Estados se inclinam para uma aliança com o presidente Lula. Cinco pendem para a aliança com José Serra. Três estão indefinidos.
- Os Estados que se inclinam para Dilma estão fechados?
Mesmo nesses Estados que se inclinam pela aliança com o presidente Lula há condicionantes muito importantes.
- Que condicionantes?
Principalmente o respeito que o PT deve ter aos candidatos do PMDB nesses Estados. É o mínimo que se pode exigir do PT, já que prioriza a eleição nacional e deseja o apoio do PMDB para sua candidata, a ministra Dilma.
- Se o PMDB tivesse de decidir hoje haveria dificuldades?
Teria dificuldades.
- Por quê?
Basicamente porque as questões estaduais, fundamentais para o PMDB, não estão resolvidas.
- Pode dar um exemplo de problema a ser vencido?
O exemplo mais claro é Minas Gerais. Temos um candidato, o Hélio Costa. É ministro do governo Lula. Portanto, confiável ao presidente. E há a candidatura do Fernando Pimentel, uma liderança importante do PT. A situação lá não está sendo bem conduzida pelo PT. É um problema grande. Lá a posição do PMDB é muito confortável.
- O que fazer?
Precisamos estabelecer um prazo. Depois, quem estiver melhor, apoia o outro. A seção de Minas tem 70 votos na convenção nacional do PMDB, que vai escolher o candidato à presidência. É a segunda maior delegação na convenção. Portanto, essa é uma questão preliminar e decisiva.
- E se não for resolvida?
Se não houver uma boa vontade do PT em relação a Minas Gerais, eu diria que nem adianta conversar mais. Daí pra frente tende a piorar. O Hélio Costa está bem à frente nas pesquisas. Não precisamos tomar uma decisão hoje. Mas é preciso ajustar uma data e um modelo de convivência.
- Qual seria a data e o modelo?
A data depende dos acertos. Nem sei se o PT aceitará a sugestão do PMDB. Funcionaria assim: Quem estiver mais bem colocado no mês tal, dia tal, será o candidato ao governo. E o outro vem para o Senado, com uma composição.
- E se o PT não aceitar?
Se o PT aceitar esse tipo de critério, facilitará muito o entendimento. Se não aceitar, se não negociar conosco, pode jogar tudo por água abaixo.
- Por que os acertos estaduais são tão vitais?
A coligação do PMDB com a candidatura da ministra Dilma dependerá da vontade dos convencionais do PMDB. São pessoas que vem dos Estados. É preciso que cheguem motivados para apoiar essa coligação.
- Quantos peemedebistas há na convenção nacional?
São pouco mais de 500 delegados. Alguns tem direito a mais de um voto. O total de votos é 820. Essa gente tem que chegar motivada para a parceria. Se eles vem dos seus Estados brigando com o PT, é melhor nem realizar a convenção.
- Se a convenção fosse feita hoje haveria o risco de vitória do Serra?
Digo que seria imprevisível o resultado porque as questões estaduais estão distantes de um bom entendimento. Não esperávamos tratar disso agora. Mas, ao admitir que a ministra Dilma é sua candidata, o presidente Lula provocou, ainda que inconscientemente, a aceleração desse processo nos Estados.
- Quais foram os efeitos da antecipação do calendário?
Isso está deixando as nossas bases muito preocupadas. Em todo lugar tem candidato do PMDB e do PT. Hoje, esse conflito está muito latente. Seria imprevisível o resultado de uma convenção do PMDB. Os atritos só ajudam o Serra, não a ministra Dilma. Por isso é importante conversarmos logo.
- Levarão o problema a Lula?
Sim.
- Quando?
Estávamos apenas esperando o presidente voltar da viagem ao exterior. Precisamos agir imediatamente, para que esses conflitos não permaneçam. Do contrário, pode ser comprometido um projeto nacional que nós queremos realizar com o presidente Lula, apoiando a candidatura Dilma. Quanto mais rápido acontecer essa conversa melhor para o PT, para o PMDB e para a ministra Dilma.
- Acha que Lula resolve?
A liderança do presidente Lula junto ao PT é decisiva. Ele será o grande condutor da campanha eleitoral de 2010. Queremos que o PT entenda o seguinte: se a prioridade do partido é eleger a ministra Dilma presidente, precisam respeitar as nossas prioridades. As forças estaduais são o grande patrimônio político do PMDB.
- Consideram a hipótese de Dilma não ser candidata?
Essa é uma possibilidade que ninguém pode descartar. Mas as notícias que nós temos sobre o estado de saúde da ministra são muito boas.
- E se a troca for inevitável?
Seja a ministra Dilma ou seja outro nome, precisamos ter uma candidatura que interprete esse governo, do qual fazemos parte e que tem um grande apoio popular. A idéia é dar continuidade. Hoje, quem representa esse projeto é a ministra Dilma. Mas se houver um bom entendimento com o PT, respeitadas as questões estaduais do PMDB, o mais importante é a continuidade do governo Lula, independentemente do nome que venha a ser apresentado pelo PT.
- Pretendem discutir com Lula o risco de saída de Dilma do páreo?
Não é o momento para isso. Seria até um desrespeito à figura da ministra Dilma. Seria também um desserviço à candidatura dela. O que nós queremos é fortalecê-la. Desde que, evidentemente, nossas pré-condições estaduais sejam respeitadas pelo PT.
- A demora conspira a favor de um PMDB pró-Serra?
Tem esse risco. Estou muito preocupado. Sabemos que há vários PTs. Temos que respeitar todas as tendências. Mas, em alguns Estados, o PT tem posições muito arraigadas. Temos o receio de que o presidente Lula e a ministra Dilma não tenham condições de conduizir esse processo como esperamos. É um receio muito agudo.
- Com que prazo trabalham?
Queremos definir tudo até o final do ano, para entrar em 2010 já sabendo o rumo que vamos tomar e o projeto que vamos construir –nacionalmente e nos Estados.
- Por que prefere Dilma a Serra?
Estamos participando do governo Lula. O apoio a uma candidatura de oposição, que se propõe a mudar os rumos do governo que ajudamos a fazer, seria incoerente. Mas, se houver demora, não posso negar que poderá haver desvio de conduta e a coisa se agravar. Daí a necessidade urgente de uma conversa com o presidente.
Escrito por Josias de Souza às 04h17
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