terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Jarbas Vasconcellos pode ter salvo o PMDB da contaminação e do adesismo (Helio Fernandes)

O nome do dia é apenas um: Jarbas Vasconcellos. Ele é o PMDB da mesma forma como foi MDB, nos tempos gloriosos em que essas três letras representavam a resistência, a não subserviência, a consciência de que a coerência política e eleitoral consistiam em lutar.

Só que o PMDB não é Jarbas Vasconcellos, este atrapalha a adesão, prejudica os negócios, compromete a "conquista" dos mais variados, cargos, divididos "irmãmente", feito cão e gato.
No meu MDB a partir de 1966 (quase o auge do endurecimento que estava a caminho), Jarbas tinha lugar garantido, levava para Recife e Pernambuco a convicção, a certeza e a constatação que fora da luta contra a ditadura não existia o que se chamava despudoradamente de democracia.

Jarbas foi rapidamente para o plano federal, que já não era o Rio de Janeiro capital e sim Brasília mortal, em termos de mordomias, facilidades, privilégios, adesões em nome de compensações. (Tudo que ele agora desvenda e retira dos subterrâneos da indignidade.)

Quando Jarbas foi prefeito de Recife pela primeira vez e depois governador também pela primeira vez, estive no Recife. Fomos à televisão e ao rádio duas vezes, não havia assunto fechado para nós. Não era debate e sim conversa pública, nossa resistência tinha a mesma origem e o mesmo fim. Rigorosamente iguais.

Candidato a deputado federal em 1966 pelo MDB da antiga Guanabara, este repórter era tido e havido como o mais votado. Cassado no dia 11 de novembro (a eleição seria no dia 15) o MDB não só da Guanabara mas do Brasil todo, se omitiu.

Só recebi o lamento e o apoio dos "autênticos" e de Jarbas Vasconcellos. Cassado, preso, proibido de escrever e de dirigir jornal, ganhei um artigo na Constituição de 1967. (Chamar de Constituição é um absurdo. Foi um punhado de ignomínias empurradas pela garganta de quase todos. Fizeram este artigo, textual: "Nenhum jornalista cassado pode ser diretor de jornal".)

Agora é a hora de relembrar esse bravo e compenetrado Jarbas Vasconcellos, que, desde que chegou ao Senado, vem se destacando pela clareza de suas posições, pela linha independente, pelos fatores positivos que imprime à sua atuação.

Agora deu o xeque-mate, ninguém tem coragem de mexer no tabuleiro e movimentar alguma pedra para atingi-lo. Se fizerem, será um boomerang.

Mestre Graciliano Ramos, nos seus tempos incógnitos (antes de ser descoberto pelo grande e injustiçado Augusto Frederico Schmidt), costumava dizer: "Uma frase só está perfeita e definitiva quando não se puder colocar ou tirar uma vírgula que seja". Magistral.

Pois a entrevista de Jarbas Vasconcellos seria abençoada por Graciliano. Ela é completa, tem início, meio e fim, com a coerência, a consistência e a consciência que só os grandes personagens podem exibir.

Não vou reproduzir o texto, apenas exaltar o autor. Jarbas não se omitiu por um momento que fosse, não livrou ninguém, não tentou fazer média ou "plantar" para daqui a pouco.

Falou, explicou, rotulou, identificou, marginalizou, arrasou com toda a simplicidade todos que no seu entendimento, claro e preciso, mereciam estar no Campo da Lampadoza, com as vísceras expostas, e o corpo esquartejado. Nenhuma injustiça.

Grande repercussão da entrevista, dos adjetivos, daqueles que precisavam ser atingidos e o foram com pontaria impressionante. Mas a maioria das análises sobre a entrevista imprecisas, inócuas, ininteligíveis.

Jarbas não está sozinho no PMDB, longe disso. Muitos acreditavam que não valia a pena lutar, a "cúpula" era e é poderosa demais. Agora isso ficará visível, Jarbas não deixará o PMDB, o PMDB não tem cacife para expulsá-lo.

PS - A entrevista, oportuna, na hora certa e com total autenticidade. Mas podem escrever: influenciará de forma soberba, irrevogável e irrefutável o alinhamento dos presidenciáveis para 2010.

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