quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Gilberto Carvalho diz que Valério 'nunca pisou' no gabinete de Lula (Postado por Lucas Pinheiro)

 O ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, afirmou nesta quarta-feira (12) que Marcos Valério “nunca pisou” no gabinete do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Chefe de gabinete durante os oito anos do governo Lula, Carvalho classificou as declarações de Valério – que indicam que Lula “deu ok” ao esquema do mensalão – são de “falsidade impressionante”.

Marcos Valério, apontado como operador do mensalão e condenado a mais de 40 anos de prisão pelo Supremo Tribunal Federal (STF), disse, em depoimento à Procuradoria-Geral da República (PGR) prestado em setembro, que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva autorizou empréstimos dos bancos Rural e BMG para o PT com objetivo de viabilizar o esquema, segundo reportagem na edição desta terça-feira (11) do jornal "O Estado de S. Paulo".

Amigo pessoal de Lula e quadro histórico do PT, Gilberto Carvalho conversou com jornalistas nesta manhã no Palácio do Planalto. Ele rebateu a versão contada à PGR de que, em 2003, após negociarem no gabinete do então ministro da Casa Civil, José Dirceu, o tesoureiro do PT à época, Delúbio Soares e Marcos Valério – acompanhados de Dirceu - subiram por uma escada que dá acesso ao gabinete de Lula. Em sua sala, o ex-presidente teria dito “ok” ao empréstimo.

“Eu fui chefe de gabinete do presidente Lula durante oito anos. Eu sei quem entrou e deixou de entrar naquele gabinete. Esse senhor nunca pisou àquele gabinete. O presidente Lula nunca avistou esse senhor. Ele erra inclusive a geografia interna, que é um pequeno detalhe, os detalhes também contam”, afirmou.

Gilberto Carvalho afirmou estar impressionado com a credibilidade dada a Marcos Valério. “O que mais me impressiona neste momento é como uma pessoa que foi condenada a longos anos de prisão e foi condenada por ser o cérebro e digamos assim provocador não apenas de um processo, mas de dois processos, como essa pessoa de repente e num gesto de desespero para tentar amainar sua pena é tomada de tamanha credibilidade”, disse.

As acusações de Marcos Valério, segundo o ministro, “particularmente naquilo que diz respeito ao presidente Lula, é de uma falácia, é de uma falsidade impressionante”. Carvalho classificou a atitude de Valério de “indignidade” e negou que Lula tenha tido despesas pagas pelo empresário.

“Não é verdade que ele pagou nenhuma despesa do presidente Lula. Não havia nenhuma necessidade disso. Portanto, se houve erros de membros do nosso partido na sua relação com o senhor Marcos Valério, esses erros já foram devidamente julgados e devidamente penalizados”, afirmou.

Segundo Carvalho, o ex-presidente “de maneira alguma” tolerou corrupção em seu governo e lembrou que inclusive o irmão de Lula, Vavá, foi alvo de operação da Polícia Federal. “[Lula] nunca pediu aos nomeados no STF nenhuma complacência e ao mesmo tempo instituiu e deu um vigor total à CGU, que é a grande responsável por apontar muitos dos erros cometidos”, disse.

Nem o PT nem o governo, segundo o ministro, estão preocupados com o que Valério tem a revelar. “Nada do que o senhor Marcos Valério venha a sacar nesse momento atinge o presidente Lula”. “Quem tem algum tipo de relação com o senhor Marcos Valério e se contaminou e teve problema por isso já foi devidamente julgado no processo que está se encerrando lá no Supremo”, disse.

Gilberto afirmou ainda achar “natural” que “forças que querem combater o presidente Lula” usem o episódio para atacar o ex-presidente. Apesar de admitir que as acusações podem causar “desgaste” ao partido, o ministro afirmou que as mesmas não são suficientes para “minar o carinho, o amor” que o povo brasileiro tem por Lula. “A sabedoria do povo brasileiro sabe separar uma coisa da outra, o joio do trigo”, disse.

O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, disse nesta terça (11), por meio de sua assessoria de imprensa, que não vai se pronunciar sobre o assunto até o final do julgamento do mensalão pelo STF. A PGR já havia informado que novas informações repassadas por Marcos Valério não seriam incluídas na ação do mensalão, mas sim poderiam abrir um novo processo em primeira instância, por exemplo.

 Segundo o jornal, o depoimento de Valério foi enviado ao STF, mas os ministros receberam as informações com cautela e alertaram que as declarações não mudam o julgamento do mensalão, que se encontra em fase final.

"Mentiras"
Em viagem a Paris, onde participou nesta terça de um evento bilateral entre Brasil e França, o ex-presidente Lula não quis comentar as acusações feitas por Marcos Valério. "Não posso acreditar em mentiras", disse Lula após a abertura do Fórum pelo Progresso Social, conferência organizada pelo Instituto Lula e pela fundação francesa Jean Jaurès.

 Durante os quatro meses de julgamento, o Supremo concluiu que o mensalão foi um esquema articulado de uso de recursos públicos e privados para pagamento a parlamentares em troca da aprovação no Congresso de projetos de interesse do governo Lula.

Foram condenados 25 dos 37 réus. Segundo a denúncia da Procuradoria Geral da República, o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, condenado a 10 anos e 10 meses de prisão, foi o "chefe" do esquema, o que ele nega.

"O Estado S. Paulo" informa que teve acesso às 13 páginas do depoimento de três horas e meia dado por Marcos Valério no último dia 24 de setembro. De acordo com o texto, Valério procurou voluntariamente a Procuradoria-Geral após ter sido condenado pelo STF pelos crimes de formação de quadrilha, corrupção ativa, peculato, lavagem de dinheiro e evasão de divisas. Em troca do novo depoimento e de mais informações sobre o esquema de desvio de dinheiro público para o PT, Valério pretendia obter proteção e redução de sua pena.

Segundo o jornal, o depoimento é assinado pelo advogado do empresário, o criminalista Marcelo Leonardo, pela subprocuradora da República Cláudia Sampaio e pela procuradora da República Raquel Branquinho.

O jornal informa que, aos procuradores, Marcos Valério disse que esteve com o então presidente Lula no Palácio do Planalto, acompanhado do então ministro da Casa Civil José Dirceu, sem precisar a data, e afirmou que Lula deu "ok" aos empréstimos do Banco Rural e do BMG para o PT. Valério também disse no depoimento, ainda segundo o "Estado de São Paulo", que repassou R$ 100 mil para despesas pessoais de Lula, por meio da empresa Caso, de Freud Godoy, então assessor da Presidência da República.

A CPI dos Correios, conhecida como CPI do Mensalão, comprovou recebimento de depósito de R$ 98,5 mil de Marcos Valério para a empresa Caso, segundo a reportagem do jornal. Ao investigar o mensalão, a CPI dos Correios detectou, em 2005, um pagamento feito pela SMPB, a agência de publicidade de Valério, à empresa de Godoy. O depósito foi feito, segundo dados do sigilo quebrado pela comissão, em 21 de janeiro de 2003.

A reportagem do jornal afirma ainda que, no depoimento, Marcos Valério disse que o então presidente Lula e o então ministro da Economia, Antônio Palocci, fizeram gestões junto à Portugal Telecom para que a empresa repassasse R$ 7 milhões ao PT. Esses recursos teriam sido enviados por empresas fornecedoras da companhia, por meio de publicitários que prestavam serviço ao PT.

Segundo a reportagem do jornal, as negociações com a Portugal Telecom estariam por trás da viagem a Portugal, em 2005, de Valério, seu ex-advogado Rogério Tolentino e o ex-secretário do PTB Emerson Palmieri.

Ainda de acordo com a reportagem, Marcos Valério acusou outros políticos de terem sido beneficiados pelo chamado valerioduto, entre eles o senador Humberto Costa (PT-PE). Ao G1, Costa negou que tenha se beneficiado do esquema.

A publicação relata ainda que Marcos Valério disse ter sido ameaçado de morte por Paulo Okamotto, atual diretor do Instituto Lula e amigo do ex-presidente. "Se abrisse a boca, morreria", disse o empresário no depoimento à Procuradoria-Geral da República. "Tem gente no PT que acha que a gente devia matar você", teria dito Okamotto a Valério, em encontro num hotel em Brasília, em data não informada pelo depoente, segundo o jornal.

O ex-ministro da Casa Civil e da Fazenda Antonio Palocci, que, segundo Valério, teria participado de uma reunião no Palácio do Planalto na qual Lula teria acertado com o então presidente da Portugal Telecom Miguel Horta o repasse de recursos para o PT, negou as declarações do operador do mensalão. Por meio de sua assessoria, Palocci disse que os fatos relatados por Valério "jamais existiram".

Citado no depoimento de Marcos Valério à Procuradoria-Geral da República, o ex-presidente da Portugal Telecom Miguel Horta declarou, por meio de nota, que ele não teve “qualquer ligação” com o processo do mensalão. Segundo o empresário, “essa é uma questão de política interna brasileira” à qual ele é totalmente "alheio".

O advogado do ex-chefe da Casa Civil José Dirceu, José Luís Oliveira Lima, afirmou nesta terça (11), por meio de nota, que seu cliente “jamais” se reuniu no Palácio do Planalto com Marcos Valério, com o ex-presidente Lula e com o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares.

O dirigente do Instituto Lula Paulo Okamotto declarou nesta terça, em Paris, ter interpretado as declarações do suposto operador do mensalão como uma tentativa de reduzir sua pena no processo do mensalão.

Procurada pelo G1, a assessorias do Banco Rural informou que avalia se divulgará nota sobre a reportagem. A do BMG informou que o banco não irá se pronunciar.

O advogado de Marcos Valério, Marcelo Leonardo, não confirmou se o cliente deu o depoimento.

As demais pessoas mencionadas pela reportagem do "Estado de São Paulo" negaram as declarações.

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