quarta-feira, 1 de julho de 2009

Sarney tem seu pior dia no Senado e oposição quer afastamento

Por Natuza Nery e Fernando Exman

BRASÍLIA (Reuters) - O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), viveu nesta terça-feira o seu pior dia desde o início da crise, em fevereiro, mas não colocou os pés no plenário para enfrentar os apelos por seu afastamento do cargo.

Enfraquecido, perdeu o apoio da oposição, de aliados da base do governo e o controle da instituição que comanda.

O golpe mais duro até agora foi a decisão do Democratas de pedir seu afastamento da presidência enquanto durarem as investigações sobre supostas irregularidades na administração da Casa. A iniciativa foi simbólica, pois os votos do DEM foram essenciais para a eleição de Sarney em fevereiro.

No mesmo dia, o PSOL protocolou uma representação formal contra ele por quebra de decoro parlamentar, que pode resultar na cassação de seu mandato.

"Neste momento, é a retirada do apoio político. Uma solução foi oferecida. Se ele não aceitar, a decisão vindoura pode ser pior", afirmou a jornalistas o senador Demóstenes Torres (DEM-GO).

O PSDB, que não havia apoiado a eleição de Sarney, também cobrou uma licença temporária, hipótese prontamente negada pela assessoria do presidente do Senado.

"Não lhe peço a renúncia, mas lhe peço, em nome do meu partido, que se licencie para dar um caráter de efetiva isenção ao processo", discursou no plenário o líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM), também alvo de denúncias de ser beneficiado pelo ex-diretor-geral do Senado Agaciel Maia.

SEM COMANDO

José Sarney já havia perdido o controle administrativo do Senado na semana passada, quando transferiu para o Democratas a prerrogativa de indicar o novo diretor-geral da Casa. Na prática, o primeiro secretário, Heráclito Fortes (DEM-PI), é o responsável pela gestão da instituição.

A diretoria-geral é o principal cargo técnico do Senado e foi justamente o órgão responsável pela edição dos chamados atos secretos, medidas administrativas sem divulgação, quando Agaciel Maia ocupava o posto. Ele foi indicado por Sarney em 1995, quando este presidia o Senado pela primeira vez.

Mesmo com tamanha pressão, Sarney se limitou a escalar um assessor de imprensa para dar uma resposta à crise.

"A hipótese de afastamento sequer está em questão", disse Francisco Mendonça, responsável pelo contato com os jornalistas.

Apesar dos esforços do PMDB para blindá-lo, outros partidos da base aliada estão divididos quanto ao apoio a Sarney. Criou-se na Casa o mantra de que defendê-lo é um risco político para quem deseja se eleger em 2010.

Há, no entanto, quem siga o discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no respaldo ao aliado.

"Sou terminantemente contra qualquer providência que personalize ou tente imputar (culpa) a um único parlamentar", disse no plenário a líder do governo no Congresso, Ideli Salvatti (PT-SC).

Em viagem à Líbia, onde participa de Assembleia da União Africana, Lula defendeu nesta terça-feira que o Senado investigue as denúncias e trabalhe normalmente.

"O Senado tem que fazer a investigação mais correta possível das denúncias e trabalhar normalmente... O que não pode é o Brasil parar, temos uma crise", disse Lula a jornalistas em Trípoli.

A adesão do DEM transformou o pedido de afastamento em uma bandeira da oposição. Resta saber o que fará o governo diante do risco de perder o comando do Senado.

O apoio de Sarney ao Planalto é considerado fundamental não apenas na tramitação de projetos no Legislativo como também para a eleição à Presidência da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff.

"É um redesenho das forças", disse o líder do PTB, Gim Argello (DF).
UOL Celular

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