domingo, 29 de maio de 2011

Serra, derrotado, aceita cargo em recém-criado Conselho Político do PSDB

28/5/2011 14:45,  Por Redação - de Brasília
PSDB
José Serra divide opiniões no PSDB

derrotado à Presidência da República nas últimas eleições José Serra de dirigir o Partido da Social Democracia Brasileiro (PSDB) e manteve a indicação do ex-senador cearense Tasso Jereissati, também derrotado nas urnas em outubro passado, para a para a Presidência do Instituto Teotônio Vilela (ITV), a instância diretiva da agremiação. O impasse chegou a ameaçar a convenção realizada, nesta sábado, e durou por mais de três horas, até que Serra aceitasse presidir o recém-criado Conselho Político do PSDB.
A convenção estava marcada para às 9 horas, mas a cúpula tucana somente chegou ao plenário após mais três horas, tempo suficiente para que Serra, Aécio, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o governador Geraldo Alckmin (SP) e o deputado Sérgio Guerra (PSDB-PE) discutissem, a portas fechadas, o acordo anunciado aos partidários que aguardavam no salão de um hotel desta capital. Nas entrevistas, posteriores à queda de braço entre os grupos que dividem a principal legenda da direita brasileira, todos os integrantes da elite tucana negaram as divergências internas.
– Temos que afastar a arma do adversário que é a mentira ao nosso respeito, que é a intriga. A intriga nos enfraquece e fortalece os adversários – afirmou Serra.
Ao final do seu discurso na convenção nacional do PSDB, Serra insistiu que “antes de ser um oficial na política”, é um “soldado”.
– Contem com esse soldado em qualquer momento – afirmou.
Aécio também desconversou e garantiu não haver “divisão” do PSDB, que o partido sai fortalecido do episódio, mas preferiu não comentar os desentendimentos entre Serra e Jereissati, durante a campanha eleitoral.
– Instigaram rupturas, que o PSDB colocaria projetos pessoais à frente do partido. Os brasileiros vão acordar amanhã sabendo que, mais do que nunca, o PSDB está unido e pronto – garantiu.
Serra, ao final das negociações, presidirá um conselho integrado por Alckmin, Aécio, FHC, o governador de Goiás, Marconi Perillo e Guerra.


Bombeiros tucanos

Coube ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e ao governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, o uniforme de bombeiros na crise que incendeia o ninho tucano. Eles foram investidos por Aécio e Guerra da missão de convencer José Serra que o espaço que lhe restava no comando do PSDB era mesmo um cargo no novo Conselho Político da legenda. Diante da resistência do grupo do senador Aécio Neves (PSDB-MG) a ceder a Serra a presidência do ITV – cargo para o qual a bancada do Senado convidou o ex-senador Tasso Jereissati (CE) –, FHC e Alckmin comunicaram a Serra que somente restava a Presidência do Conselho Político, o que irritou o ex-governador paulista.
A princípio, o Conselho seria presidido por FHC – mas o ex-presidente preferiu abrir mão da indicação para tentar resolver o impasse. FHC propôs também que os paulistas fiquem, além do comando do conselho, com duas vice-presidências da executiva nacional – um indicado por José Serra e outro por Alckmin. O nome levado às conversas pelos serristas e aceito pelos demais foi o do ex-governador Alberto Goldman, enquanto o indicado de Alckmin é o secretário de Planejamento e Desenvolvimento Regional do Estado de São Paulo, Emanuel Fernandes, deputado federal e ex-prefeito de São José dos Campos.
As ameaças dos tucanos paulistas de boicotar a convenção caso Serra fosse preterido na indicação para o ITV não surtiram o efeito esperado. A fundação do partido é responsável pela realização de seminários, pesquisas e estudos de conjuntura. Segundo sondagens internas, a indicação de Serra para o ITV não tinha apoio de maioria dos convencionais do partido.
Candidato à reeleição, o presidente nacional do PSDB, deputado Sérgio Guerra (PE), trabalha para evitar uma disputa aberta entre os dois principais diretórios do partido, o de Minas e o de São Paulo. Segundo ele, o partido não pode ficar preso apenas à briga porque tem representações fortes em muitos outros Estados como Paraná, Pará e Goiás.
– Claro que não há solução sem São Paulo, mas não estamos emparedados por isso, não. O partido não é só São Paulo e Minas. Não podemos ficar reduzidos a essa discussão bipolar, caso contrário, não chegaremos a lugar algum – afirmou Guerra, antes da reunião desta manhã.
Os delegados tucanos elegeram o Diretório Nacional com 213 votos, a totalidade do colégio eleitoral, posto haver apenas uma chapa na disputa. A falta de acordo entre os grupos mineiro e paulista ameaçava levar a definição da executiva para um confronto.
Apesar da pressão paulista, até quinta-feira era descartada pelos aecistas a possibilidade de recuo na indicação de Tasso para a presidência do ITV. Essa solução foi tentada por Alckmin, interessado em evitar conflitos com Serra. Mas Tasso foi convidado publicamente pela bancada no Senado, aceitou, e virou fato consumado.
Para os tucanos que defendem a candidatura de Aécio a presidente, Serra transformaria o ITV num espaço para fazer campanha pessoal. Além disso, temiam que, num cargo com essa projeção, Serra estabelecesse um duplo comando do PSDB, disputando com Sérgio Guerra que, por sinal, é um dos mais preocupados com o confronto entre Aécio e Serra. Ele é visto como aliado do mineiro, mas está interessado em manter o partido unido.
Com a disputa pela formação da executiva, o PSDB conseguiu, na prática, antecipar para 2011 o confronto previsto para 2014 entre Serra e Aécio, pela vaga de candidato do partido à sucessão presidencial. Serra já foi derrotado duas vezes (2002 e 2010), mas ainda alimenta expectativa de disputar uma última vez. A avaliação majoritária no partido, no entanto, é que a vez é de Aécio, por vários motivos, como a maior capacidade de agregar politicamente e os erros atribuídos a Serra na campanha de 2010.
Mesmo assim, é consenso que o peso político de Serra não pode ser descartado pelo partido e que é prematuro definir agora uma candidatura. O perfil ideal dependerá de vários fatores, entre eles do desempenho do governo Dilma Rousseff e da coesão – ou não – de sua base aliada.
Mesmo adversários de Serra defendem um acordo, para evitar que ele saia humilhado e o partido, definitivamente rachado. O receio é que Serra seja transformado no “Kassab do PSDB”, numa referência à saída do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, do Democratas, levando um grande número de filiados para o novo partido, o PSD.
– Todo mundo estava procurando uma forma de Serra não ser vencido – definiu um lider tucano envolvido nas conversas.
Aécio, no entanto, tem vencido todos os rounds. Primeiro, com uma mobilização de apoio à reeleição de Guerra na Presidência do partido, barrando uma articulação de aliados de Serra para conduzi-lo ao cargo. Depois, conseguindo apoio à permanência do deputado Rodrigo de Castro (MG), seu aliado, na secretaria geral do partido.
Os paulistas queriam substituí-lo.
Por fim, o senador mineiro antecipou a formalização do convite a Tasso, desafeto declarado de Serra, para assumir o ITV, rebatendo a articulação de Alckmin para levar Serra ao comando do órgão.
Tucanos de São Paulo disseram que se tentava destruir e humilhar o ex-governador.
Os dirigentes discutem a redefinição de alguns papéis de cargos da executiva, entre eles o da vice-presidência, ocupada pelo ex-ministro Eduardo Jorge Caldas Pereira, aliado de Serra, cujo cargo absorveu boa parte do poder da secretaria-geral do partido.
Não está afastada, no entanto, a possibilidade de Serra deixar a legenda.

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